A CBMR Science Platform foi conhecer o projeto “Fighting TB”, um projeto de desenvolvimento de estratégias no combate à tuberculose. O objetivo é claro: encontrar uma nova terapia para a doença, por via pulmonar, que consiga reduzir o tempo de tratamento e o impacto negativo dos efeitos secundários. A resposta parece estar na “estrelinha” do laboratório de Ana Grenha: a goma da alfarroba.
Acompanhe a entrevista com a investigadora responsável e fique a conhecer que novidades lhe traz a investigação do CBMR:
Science Platform – Fale-nos um pouco sobre o seu projeto de investigação…
Ana Grenha – O projeto chama-se “Fighting TB”, é um projeto de desenvolvimento de estratégias no combate à tuberculose, e está a ser desenvolvido por mim, enquanto investigadora principal, no âmbito do Centro de Investigação em Biomedicina e do Centro de Investigação em Ciências do Mar.
Quais os objetivos da investigação?
Os objetivos do projeto consistiram em desenvolver micropartículas, ou seja, sistemas de administração de fármacos que nos permitam ter uma terapêutica nova para a tuberculose. Desta vez, não se trata de uma terapêutica por via oral – como a já existente – mas, sim, de uma terapêutica por via pulmonar, que não existe no momento. Por que é que tivémos esta ideia? Porque a tuberculose é uma doença do foro pulmonar, com uma bactéria responsável, que se aloja num dos locais do pulmão – que são os alvéolos –, e a lógica é tentar concentrar os fármacos que vão ter acção junto do local onde as bactérias estão alojadas. Acreditamos que, desta forma, conseguimos aumentar a eficácia da medicação.
Qual o processo de investigação?
O ínicio do projeto passou por delinear quais seriam os materiais que nos interessaria utilizar para produzir as tais micropartículas. Tentámos usar alguns materiais de origem natural, que existem, muitos deles, de forma previligiada, no Algarve, como, por exemplo, a alfarroba, alguns materiais provevientes do mar, etc. Foi feito um esforço de utilização dos nossos recursos naturais. Portanto, o primeiro passo, foi identificar quais os materiais que poderíamos utilizar nas micropartículas, de modo a que elas tivessem uma ação favorecida com as células que alojam as tais bactérias.
No processo de tuberculose o que acontece é que há inalação da bactéria, a bactéria é respirada pelo indivíduo e vai alojar-se na zona mais profunda do pulmão.
A nossa intenção é que as partículas que vamos produzir, e que têm os antibióticos necessários para a terapêutica, tenham uma interação priviligiada com as células.
Aquilo que sabemos é que essas células têm uns receptores à superfície que reconhecem favoravelmente alguns dos materiais que seleccionamos.
Neste momento o projeto já está bastante avançado, temos já, inclusivé, uma patente em curso, e já verificámos que, de facto, há alguns materiais que têm maior intervenção do que outros. Descobrimos, por exemplo, que a goma da alfarroba é um dos materiais com maior potencial na área, é o material “estrelinha” do nosso laboratório.
Que impacto pode ter este tipo de investigação na comunidade?
O impacto poderá ser, realmente, bastante grande. Como referi, temos um processo de patente em curso. Estamos à espera que haja alguma indústria que se interesse pela tecnologia. Porque, de facto, o que acontece é que a tuberculose, embora tenha uma terapêutica eficaz, que está instituída há mais de 50 anos, principalmente nos países sub-desenvolvidos, é ainda uma doença que tem muitos novos casos a aparecer a cada ano. A atual terapêutica é muito prolongada, com alguns efeitos adversos e, portanto, o interesse é, desenhar uma terapêutica alternativa que possa diminuir o tempo de tratamento e o impacto negativo dos efeitos secundários.
Mesmo ao nível dos países desenvolvidos tem havido algum ressurgimento da doença, aliado ao facto de terem vindo a aumentar outras doenças como o HIV. A junção das duas doenças é realmente um fator de crescimento dos números da tuberculose.
Acreditamos que, caso conseguíssemos realmente chegar a uma terapêutica pulmonar da tuberculose, poderíamos ter um impacto muito favorável.
“O que acontece é que a tuberculose, embora tenha uma terapêutica eficaz, que está instituída há mais de 50 anos, principalmente nos países sub-desenvolvidos, é ainda uma doença que tem muitos novos casos a aparecer a cada ano. A atual terapêutica é muito prolongada, com alguns efeitos adversos e, portanto, o interesse é, desenhar uma terapêutica alternativa que possa diminuir o tempo de tratamento e o impacto negativo dos efeitos secundários”.