Todos nós conhecemos pessoas que sobreviveram ao cancro e isso faz-me acordar com umaa energia enorme para ir trabalhar.” Pedro Castelo Branco, coordenador do grupo de investigação em Terapêutica do Cancro e Desenvolvimento de Biomarcadores no Centro de investigação em Biomedicina, na Universidade do Algarve, é um dos investigadores portugueses que nos bastidores tentam descobrir formas de dar aos médicos novas ferramentas para combaterem a doença.
O objetivo tem guiado o seu destino desde que decidiu fazer um doutoramento em Biologia Molecular, em Oxford, Inglaterra.
Quando o concluiu, em meados da década passada, leu um artigo de opinião no jornal The New York Times, assinado pelo neurocirurgião americano Robert Martuza, a defender o recurso a vírus para combater o cancro, então uma abordagem inovadora. Escreveu-lhe e atravessou o Atlântico para trabalhar com ele, no departamento de Neurocirurgia do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina de Harvard. “Fui ser um treinador de vírus”, descreve Pedro Castelo Branco, sobre a terapia que ajudou a desenvolver para tratar tumores cerebrais, hoje já utilizada pelos médicos, através da qual os vírus “reconhecem as células cancerígenas e as matam”.
Três anos mais tarde, em 2009, um investigador canadiano descobriu que certas células cancerígenas conseguiam disfarçar-se de células saudáveis nas sessões de quimioterapia, escapando ao tratamento para depois provocarem episódios de recorrência com uma agressividade ainda maior. O investigador português fez as malas e seguiu para Toronto, com o propósito de estudar estas “células-camaleão”, como lhes chama, também conhecidas por “abelhas-mestras” do cancro.
Ali, no Canadá, haveria de fazer a descoberta que se tornou o motor das suas investigações: uma enzima que permite diagnosticar precocemente o cancro e antecipar a agressividade com que vai desenvolver-se, por se comportar de forma distinta e apresentar níveis diferentes em células normais e em células tumorais ainda num estado muito inicial. Pela mão dele, a telomerase, a enzima em causa, tornou-se um biomarcador,
uma componente das células capaz de ajudar os médicos a detelar a doença mais cedo — numa fase em que o tumor não é sequer percetível ao microscópio — e a prognosticar a sua evolução. Uma solução pronta a ser usada pelos médicos em casos de cancro da próstata.
“A partir de agora tudo vai depender da capacidade dos investidores de produzirem o kit e mete-lo no mercado. Neste momento, está em comercialização nos Estados Unidos da América e acredito que num futuro bastante próximo pode chegar aos consultórios”, adianta Castelo Branco.
Nos últimos quatro anos, já regressado a Portugal, o investigador tem centrado a sua atividade na pesquisa destes biomarcadores com potencial para revolucionara abordagem clínica do cancro. Isto porque a deteção precoce e o prognóstico antecipado são trunfos fundamentais na escolha e na eficácia do tratamento. “Quanto mais estudarmos os cancros ao pormenor, mais poderemos chegar à terapia certa, na hora certa, para o paciente certo”, sintetiza Pedro Castelo Branco.
Com trabalhos já publicados, nesta linha de ação, também ao nível do cancro cerebral e do pâncreas, o investigador de 44 anos conta com uma equipa de 16 pessoas agora dedicada a encontrar biomarcadores para o cancro colorectal e para o da mama, ao mesmo tempo que procura aprofundar o estudo do cancro das glândulas salivares.
No entanto, o desafio mais aliciante para os próximos tempos talvez seja o de reavaliar as margens de segurança quando um tumor é removido cirurgicamente. Pedro Castelo Branco quer confirmar se, para lá das células removidas em redor do tumor, a chamada margem de segurança, não haverá outras com alterações cancerígenas não identificadas. Motivação não lhe falta. “Não conseguimos salvar toda agente, mas sei que o alcance de uma nova descoberta pode ser uma coisa extraordinária.”
Fonte: Visão Saúde
Reportagem: Rui Antunes
“Não conseguimos salvar toda a gente, mas sei que o alcance de uma nova descoberta pode ser uma coisa extraordinária.”