Friday, April 26, 2024
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Pode a pobreza ser genética? É esta a pergunta lançada por um grupo de investigadores que tentam agora evidenciar a possível associação entre os rendimentos auferidos e a própria anatomia do cérebro humano e as suas capacidades cerebrais.

 

De acordo com os investigadores, questões como a da melhoria da alimentação, o papel da escola e as condições de vida podem ser determinantes. Os cientistas colocam, assim, a hipótese de que a pobreza possa ter efeitos nocivos para o cérebro, determinando as suas próprias características anatómicas.

 

Assim, e pese embora estes efeitos tenham sido observados, até ao momento, por vários estudos, o tema continua a ser de intenso debate.

 

Como afirmam os investigadores, as crianças nascidas em meios mais privilegiados economicamente obtém, em média, melhores resultados em testes de quociente intelectual, no desenvolvimento da linguagem e na capacidade de leitura. Estudos mais recentes comprovam que há uma ligação entre auferir rendimentos mais elevados e envolver uma maior extensão de áreas cerebrais em processos de memória e linguagem.

Pode a pobreza influenciar a anatomia do nosso cérebro?

 

Repare-se, inclusivamente, que os rendimentos e a edução dos progenitores são considerados alguns dos factores que mais influenciam o desenvolvimento cognitivo. Os investigadores questionam, neste sentido, se um ambiente materialmente mais pobre (sobretudo em termos de má nutrição) não poderá, desta forma, ter um impacto em questões como a dos estímulos proporcionados pelos pais ou as oportunidades de uma melhor educação.

 

Em qualquer um dos casos, a pergunta permanece em aberto: pode a pobreza traduzir-se em diferenças efetivas na estrutura do cérebro mesmo antes de se manifestar em piores resultados do ponto de vista cognitivo? Esta é precisamente a questão a que procuram responder, na Revista Nature Neuroscience, um conjunto de investigadores da Columbia University (New York) e do Children’s Hospital (Los Angeles). A equipa, chefiada por Kimberly Noble e Elizabeth Sowell, submeteu mais de 1099 crianças e a adolescentes, entre os 3 e os 20 anos de idade, a ressonâncias magnéticas que procuram medir a extensão da superfície do seu córtex cerebral.

 

Se é um dado já confirmado que o córtex cresce durante a infância e adolescência, proporcionando um amadurecimento da experiência cognitiva pessoal, os investigadores quiseram perceber, levando em conta as origens étnicas dos vários participantes, de que modo o estado sócio-económico surge associado de maneira significativa à extensão da superfície do cérebro.

 

Por outras palavras, os investigadores foram capazes de concluir que a superfície do córtex cerebral de crianças provenientes de famílias com rendimentos mais baixos – menos de 25 mil dólares por ano – era até 6% menor do que a área de crianças provenientes de famílias com rendimentos superiores a 150 mil dólares ao ano.

 

As diferenças mais assinaláveis registaram-se ao nível das áreas cerebrais do desenvolvimento da linguagem, das funções executivas (como a atenção) e até ao nível da memória. Outro dado digno de registo tem a ver com o facto do nível de educação dos progenitores surgir claramente associado à superfície total do córtex. Por cada ano escolar frequentado a mais pelo pai ou pela mãe da criança, observou-se um aumento da área do córtex.

Maior riqueza, maior estímulo

 

O estudo não explica, no entanto, a correlação observada entre as diferenças de rendimentos e as características anatómicas do cérebro das crianças. Chegou-se, assim, à conclusão que um ambiente de vida mais pobre, e, logo, mais stressante, pode influenciar o desenvolvimento do cérebro até mesmo antes do nascimento da criança. Ou, em alternativa, isto pode simplesmente acontecer devido ao facto de as famílias mais abastadas economicamente poderem proporcionar melhores estímulos cognitivos aos seus filhos.

 

Os investigadores, acreditam, assim, e em conclusão, que, provavelmente, se trata de uma combinação dos dois factores, realçando, no entanto, que tanto o apoio social como o ensino podem ajudar a superar estas diferenças. “Nunca é tarde demais para pensar na forma como vamos usar os recursos que enriquecem o ambiente de desenvolvimento, ajudando, assim, às conexões cerebrais”, afirmou Elizabeth Sowell.

 

“O dado mais importante que queremos transmitir não é o de que ‘se és pobre o teu cérebro vai ser menor e não há nada que possas fazer em relação a isso’. Essa não é, absolutamente, a mensagem”, garantiu a investigadora.

A superfície do córtex cerebral de crianças provenientes de famílias com rendimentos mais baixos – menos de 25 mil dólares por ano – era até 6% menor do que a área de crianças provenientes de famílias com rendimentos superiores a 150 mil dólares ao ano.

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